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Na data de ontem, terça-feira, 10 de setembro, a comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha investigação da queda do avião ATR 72 da Voe recebeu o chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), o Brigadeiro do Ar Marcelo Moreno, para uma audiência pública. O debate foi sugerido pelo coordenador da comissão, deputado Bruno Ganem (Pode-SP), e pela deputada Eliza Virgínia (PP-PB).
Relatório preliminar sobre o acidente aéreo, ocorrido em 9 de agosto, divulgado pelo Cenipa, mostra que não houve declaração de emergência por parte da tripulação antes da queda. Divulgado na última sexta-feira (6), o relatório apresenta as transcrições dos áudios de comunicação entre os pilotos da aeronave e o controle de tráfego aéreo, extraídas da caixa-preta.
O avião saiu de Cascavel (PR) com destino a São Paulo e caiu em Vinhedo, próximo à capital paulista, matando todas as 62 pessoas que estavam a bordo, sendo quatro tripulantes e 58 ageiros.
A investigação do Cenipa sobre o caso prosseguirá e abordará, por exemplo, a situação de manutenção da aeronave, mas a investigação sobre responsabilidade civil e criminal será feita pela Polícia Federal.
Busca por segurança
O Brigadeiro esclareceu que, diferentemente da investigação judicial, que busca culpados, a investigação feita pelo órgão busca a segurança no transporte aéreo – ou seja, evitar que acidentes como esse se repitam.
Segundo Marcelo Moreno, a aeronave era apropriada para voar em condição de formação de gelo, e a tripulação também era treinada para voar nessas condições. “Aeronave certificada, tripulação treinada, as informações meteorológicas estavam claras, de que a aeronave poderia encontrar gelo severo em sua rota, e em momento algum houve declaração de emergência”, detalhou.
O brigadeiro informou ainda que, pelo relatório preliminar, é possível precisar que o sistema de degelo da aeronave foi acionado três vezes durante o voo, após a indicação de que existia formação de gelo na aeronave, pelo sistema chamado de Eletronic ice detector.
Questionamentos
O coordenador da comissão, deputado Bruno Ganem (Pode-SP), e outros integrantes da mesma questionaram se o sistema de degelo poderia ter sido desligado sozinho sem que o piloto quisesse. Marcelo Moreno afirmou que, neste momento, não é possível precisar se houve falha no sistema de degelo.
“O que nós temos hoje no back up protegido, que é o gravador caixa-preta de voz, é somente a informação de quando aquele botão de liga ou desliga foi ligado como on e off. Hoje não conseguimos dizer se foi o próprio piloto que ligou ou desligou ou se foi um problema mecânico”, explicou.
O brigadeiro afirmou que essa informação ainda vai ser buscada nos chips dos computadores do avião e junto aos fabricantes. “Neste momento, ainda muito preliminar, não podemos afirmar se houve falha do sistema”, afirmou, acrescentando que não há certeza de que esses dados estarão disponíveis nos computadores.
Questionado por Ganem, Marcelo informou que existem aeronaves mais modernas em que o sistema de degelo é acionado automaticamente.
Síntese do relatório
O coronel aviador Carlos Henrique Baldin, também do Cenipa, destacou que o órgão está apenas no início das investigações e apresentou à comissão a síntese dos trabalhos até o momento.
Ele explicou que o piloto da Voe solicitou permissão para se preparar para aterrissagem pela 1ª vez às 13h18, mas um voo em rota convergente, em uma altitude menor, impediu a autorização.
Às 13h20, o piloto recebeu a informação de que a aproximação seria autorizada em 2 minutos, novamente por causa de uma aeronave em rota convergente. Entretanto, 1 minuto depois da comunicação, às 13h21, o avião começou a cair, sem que a tripulação tivesse declarado emergência.
Sistema de degelo
Relator da comissão externa, o deputado Padovani (União-PR) também quis saber sobre a manutenção da aeronave e por que o sistema de degelo foi acionado e desligado várias vezes.
“Se inteirado das condições meteorológicas adversas e tendo percebido que o sistema anti-gelo não funcionava a contento, e ele ligou quatro vezes, a melhor alternativa não seria ter declarado emergência e buscar melhor alternativa?”, perguntou Padovani.
O coronel Carlos Henrique Baldin explicou o funcionamento do sistema de degelo da aeronave:
“Quando se liga, ele começa a atuar em poucos segundos em ciclos de 1 a 3 minutos, a depender da seleção do tipo de ciclo que é feito e essa seleção varia conforme a intensidade do gelo que está formado.
A partir do momento em que existe o acionamento, ele automaticamente já quebra o gelo e esse gelo começa a se desprender de forma gradual, não sei estimar de forma precisa quanto tempo leva”.
Baldin reiterou que a questão da manutenção da aeronave ainda será investigada e garantiu que os funcionários serão ouvidos. Além disso, afirmou que não se sabe ainda o nível de consciência da situação dos tripulantes em relação à formação de gelo nas partes externas da aeronave.
Denúncia
O deputado Padovani afirmou que uma denúncia anônima, encaminhada no dia 26 de agosto ao Ministério Público do Paraná, acusa a Voe de operar irregularmente no município de Cascavel e acusa a Transitar (autarquia local de regulação no setor de mobilidade) de crime de responsabilidade.
Os representantes do Cenipa esclareceram que a questão de responsabilidade criminal será investigada pela Polícia Federal.
Informações da Agência Câmara de Notícias