
O comportamento de pedir aos ageiros para abrir as persianas das janelas durante fases críticas do voo é comum em muitas partes do mundo, mas frequentemente causa questionamentos entre os viajantes.
A resposta para essa prática tem base na segurança. Durante o táxi, decolagem e pouso – conhecidos como “fases críticas do voo” –, há maior probabilidade de ocorrerem incidentes e acidentes.
Caso uma emergência aconteça, a abertura das janelas permite que ageiros e tripulação identifiquem rapidamente o que está acontecendo do lado de fora, como fogo, fumaça ou destroços, salvando segundos preciosos.
Além de ajudar os ageiros a tomarem decisões em situações de risco, as persianas abertas ampliam o campo de visão da tripulação, que pode ter sua percepção limitada pelos assentos específicos onde estão posicionados.
Em situações críticas, os ageiros podem informar a tripulação sobre possíveis problemas, que, por sua vez, ream essas informações aos pilotos.
O impacto de um incidente histórico
A origem exata dessa recomendação não é clara, mas o acidente com um avião da British Airtours em 1985, no Aeroporto de Manchester, marcou um divisor de águas na segurança da aviação.
Nesse episódio, 55 pessoas perderam a vida após uma falha catastrófica no motor durante a decolagem, que resultou em um incêndio. Problemas na evacuação, como um escorregador de emergência defeituoso e dificuldades nas saídas sobre as asas, agravaram o desastre.
Após investigações, especialistas sugeriram uma série de mudanças para tornar as evacuações mais eficientes. Uma delas foi a adoção da regra de manter as persianas abertas durante as fases críticas, prática que muitas companhias aéreas aram a seguir.
A Organização de Aviação Civil Internacional (ICAO), uma agência das Nações Unidas, recomenda que as persianas fiquem abertas nesses momentos, e essa orientação foi adotada por diversos reguladores ao redor do mundo.
O debate entre aéreas e reguladores
Apesar da recomendação da ICAO, a prática não é universal. Em 2017, a KLM questionou a obrigatoriedade dessa regra, afirmando que não havia evidências científicas que comprovassem maior segurança com as persianas abertas durante taxi, decolagem e pouso.
Reguladores europeus, entretanto, rejeitaram o argumento, destacando que a visibilidade externa pode ser crucial para identificar problemas como pneus furados, contaminação nas asas ou incêndios.
Embora a regra seja amplamente recomendada, sua aplicação pode variar. Algumas companhias aéreas adotam procedimentos operacionais padrão para garantir a segurança da cabine, mas nem sempre isso inclui a fiscalização rigorosa da abertura das persianas. No entanto, ageiros que desobedecerem a um pedido da tripulação podem enfrentar consequências legais, dependendo da jurisdição.
Nos Estados Unidos, a prática nunca foi amplamente adotada. Em 2020, a United Airlines ou a “encorajar” os ageiros a abrir as persianas, mas abandonou a política dois anos depois, citando que era a única grande companhia aérea americana a fazer isso.
Leia mais: