
A renovação da frota de caças da Força Aérea Portuguesa (FAP) deverá ocorrer com uma troca de fornecedor de material bélico. Atualmente, a FAP é uma das principais operadoras do Lockheed Martin F-16 Fighting Falcon, que chegou à força lusa em 1990 nos modelos F-16A/B da série Block 15.
Posteriormente, esses caças foram modernizados para o padrão F-16AM/BM por meio do programa Mid-Life Upgrade, que os trouxe para o padrão Block 20, bastante similar ao F-16C/D novo de fábrica e ao mesmo modelo que a Argentina receberá em breve.
Esse programa foi concluído em 2014, e agora o F-16 já se aproxima do fim de sua vida útil. No entanto, Portugal ainda não escolheu um substituto, em contraste com seus vizinhos: a Espanha, que optou pelo Eurofighter Typhoon, e a Itália, que escolheu esse caça europeu junto do F-35.
Nesse contexto, o F-35 estava entre os possíveis caças a serem escolhidos, o que manteria a americana Lockheed Martin como fornecedora e seguiria os os de vários países que têm substituído o Falcon pelo Lightning II, como Bélgica, Grécia, Países Baixos, Polônia, Romênia e Noruega.

Porém, as recentes declarações e mudanças de postura de Donald Trump, que tem demonstrado hostilidade à Ucrânia — inclusive ameaçando cortar o apoio logístico para os recém-recebidos F-16 dos Países Baixos e da Noruega —, além do aumento de tarifas para os europeus, fizeram com que a FAP mudasse de ideia.
Em entrevista ao jornal Público, o Ministro da Defesa de Portugal, Nuno Melo, afastou a possibilidade de compra do F-35, afirmando: “Os F-16 estão em fim de ciclo, e teremos que pensar na sua substituição. Mas, nas nossas escolhas, não podemos ficar alheios à envolvente geopolítica. A recente posição dos Estados Unidos, no contexto da OTAN e no plano geoestratégico internacional, tem que nos fazer pensar nas melhores opções, porque a previsibilidade dos nossos aliados é um bem maior a ter em conta.“
Nuno também mencionou as opções europeias e a contribuição local, ressaltando que, em uma eventual guerra, é essencial ter um aliado como fornecedor e um fornecedor como aliado: “Temos que acreditar que, em todas as circunstâncias, esses aliados estarão do nosso lado. Há várias opções que têm que ser consideradas, nomeadamente no contexto de produção europeia e também tendo em conta o retorno que essas opções possam ter para a economia portuguesa“, afirmou o ministro.
A preocupação portuguesa está mais relacionada à quebra de confiança na boa relação que existe com o governo americano, principalmente na área militar.
A Força Aérea dos Estados Unidos paga um aluguel para utilizar boa parte do espaço da Base Aérea de Lajes, nos Açores, essencial para a logística americana no deslocamento de aviões entre o continente americano e o Oriente Médio.
“E esse nosso aliado, que ao longo de décadas foi sempre previsível, poderá trazer limitações na utilização, na manutenção, nos componentes, em tudo aquilo que tem a ver com a garantia de que as aeronaves serão operacionais e serão utilizadas em todo tipo de cenários“, concluiu Nuno Melo.
Ao ser questionado sobre uma “opção à sa” — no caso, o repórter citando indiretamente o caça francês Dassault Rafale —, Nuno foi categórico ao afirmar que não comentaria o assunto.
Apesar da existência de outros caças europeus avançados, o Rafale é o que apresenta o maior índice de nacionalização (ou europeização) quando comparado ao sueco Gripen NG e ao multinacional Typhoon. Por outro lado, é também o que tem o maior custo operacional entre os caças de 4ª geração, o que implicaria em maiores gastos para a FAP.
Vale ressaltar que nenhuma licitação foi aberta pelo governo português. Com as recentes (e recorrentes) instabilidades políticas — que afetam até a privatização da TAP Air Portugal —, espera-se que o processo não se inicie tão cedo, apesar da necessidade estar cada vez mais “batendo à porta”.